Falta de controle sexual pode ser doença

Apetite excessivo, hipersexualidade, Desejo Sexual Hiperativo ou Ninfomania – em mulheres – e Satiríase – em homens – representam um transtorno caracterizado por um nível elevado de desejo que causa prejuízos na vida da pessoa

Assim como as dependências em álcool, cigarro e drogas existem também os viciados em sexo. Apesar de ser natural que o ritmo sexual e a vontade de transar variem de pessoa para pessoa, sair de casa frequentemente com o único objetivo de fazer sexo, passar horas assistindo a filmes eróticos ou se masturbando, exigir do companheiro frequência sexual excessiva e ainda manter relações extraconjugais são sintomas claros de que o desejo sexual saudável pode ter dado lugar a uma doença.

Quando o impulso sexual sai do controle, ele se torna uma compulsão – que como qualquer outra dependência precisa de tratamento. Segundo o psiquiatra Carlos H. Ferreira a compulsão sexual não é definida pelo número de relações sexuais que a pessoa tem.

“O critério não é quantitativo porque existem pessoas que têm atividade sexual intensa, mas não tem a compulsão. É considerado transtorno quando a pessoa não tem controle sobre o impulso, ou seja, quando leva mais tempo do que gostaria com a busca por sexo ou com a prática sexual’’, diz.

Com o passar do tempo e o agravamento do transtorno a compulsão passa a interferir em outras áreas da vida e o prazer dá lugar a sentimentos de culpa e arrependimento. “Até certo momento a pessoa encara o comportamento como normal, mas começam a aparecer os resultados negativos, como perda de emprego, DSTs, fim de relacionamentos. O ideal é que as pessoas busquem ajuda antes de chegarem nesse ponto’’, explica o especialista. A compulsão sexual é tratada com psicoterapia, complementada ou não pelo uso de medicamentos.

“Os compulsivos sexuais têm de manter-se atentos para o resto da vida, pois existem possibilidades de recaídas. Isso não exige necessariamente um tratamento vitalício, muitas vezes essas pessoas chegam ao consultório e descobrem novas ferramentas para lidar com as emoções. ’’, enfatiza o médico.

Existem também antidepressivos que regulam a serotonina e podem ajudar a diminuir a libido, a ansiedade, os pensamentos obsessivos e aumentar o autocontrole e bom humor. Psicoterapia de casal e psicoterapia de grupo especialmente voltada para adicção sexual também demonstram bons resultados. Segundo o psiquiatra não existe apenas uma origem para a compulsão sexual.

 “O ser humano é muito complexo e diversos fatores podem contribuir. O ambiente em que a pessoa se desenvolve pode ser um facilitador, mas não determinante do desenvolvimento do comportamento compulsivo sexual. Um exemplo de ambiente familiar facilitador é aquele onde se valoriza muito a fala e ações sexuais exageradas, bem como a maneira de pensar compulsivamente”, aborda.

Os pressupostos para dizer que a pessoa apresenta o comportamento sexual compulsivo dependem de características de personalidade específicas como pensamentos recorrentes e obsessivos (imagens que entram na mente do indivíduo repentinamente e a pessoa não consegue resistir a elas) e praticar atos ou rituais com frequência.

“Essas manifestações ocorrem em conjunto com ansiedade e depressão. O compulsivo sexual tem dificuldade em manter um único parceiro e gasta tempo e dinheiro para satisfazer seus impulsos, que normalmente não está delimitado ao ato sexual em si, mas passa também por todos os rituais ligados ao sexo”, esclarece o entrevistado.

Também são sinais de compulsão o indivíduo que passa por cima de qualquer limite de certo e errado para obter o sexo como adultério, pornografia, swing, prostituição, masturbação descontrolada e sexo em locais inapropriados com pessoas comprometidas. “A pessoa com transtorno não mede consequências e com frequência coloca em jogo a vida do cônjuge, filhos, emprego, amizades e relacionamentos em geral. O que entendemos por anormal? Tudo aquilo que foge do sexo convencional dentro de um relacionamento afetivo maduro e saudável”, comenta o psiquiatra.

A tecnologia também contribui para o descontrole sexual, já que hoje o indivíduo tem acesso a qualquer conteúdo pornográfico com apenas um clique no celular ou computador.