Copa do Catar quebra paradigmas ao ocorrer no final do ano e ter arbitragem feminina!

Pela primeira vez desde 1930 a Copa do Mundo de Futebol não é disputada em julho; árbitra francesa e assistente brasileira selam inclusão das mulheres na arbitragem da principal competição esportiva do planeta. Sonho do Hexa segue vivo

Desde 1930, de quatro em quatro anos ao longo do mês de julho, com exceção do hiato entre 1942 e 1946 causado pela segunda Grande Guerra, o Brasil seguia seu script: o país parava para torcer pela seleção na Copa do Mundo. Expedientes eram interrompidos, funcionários liberados e estudantes em férias esquentavam o tradicional “frio de julho” no maior país tropical do planeta. Mas, devido à incompreensível escolha pelo Catar, a FIFA foi obrigada a ceder e mudar – pela primeira vez na história – o calendário da sua principal competição. 

Com as temperaturas batendo na casa dos 50ºc no verão do Catar, que ocorre em julho, a solução foi realizar a Copa durante o inverno – época em que as temperaturas giram na casa dos 35ºc a 40ºc. Para amenizar, foram construídos estádios climatizados, o que faz com que muitos torcedores e jornalistas reclamem de um inusitado “frio” em pleno Catar. 

No Brasil, como sempre, a repercussão da Copa, mesmo sendo “fora de época”, é gigantesca. O país literalmente tem parado durante os jogos da seleção de Tite. Pode-se dizer mais, com as múltiplas opções de transmissão ao vivo da atualidade, não é raro ver bares, restaurantes, padarias e telões em bairros lotados para acompanhar partidas de outras seleções. É a febre da Copa do Mundo, capaz de aliviar até as mais extremas temperaturas causadas pela divisão política em que o Brasil se encontra. O Hino Nacional, que desde o fim das eleições, vem sendo entoado diariamente em frente aos quarteis, agora também é cantado com orgulho por 215 milhões de brasileiros. E não é só a seleção que pode fazer história no Catar. 

A catarinense Neuza Inês Back já fez história. No dia 1 de dezembro, Neuza, de 38 anos, foi assistente da francesa Stéphanie Frappart, a primeira árbitra mulher em uma Copa do Mundo. A catarinense tem experiência: é considerada uma das principais assistentes de arbitragem do Brasil, tendo somando mais de 100 partidas apitadas no Campeonato Brasileiro da Série A, além de jogos da Copa do Brasil e da Copa Libertadores. Tendo como outra assistente a mexicana, Karen Diaz Medina, o trio atuou em um jogaço: Alemanha 4 x Costa Rica 2, partida que marcou a  eliminação alemã, apesar da vitória. 

Foi um jogo histórico, que deu sequência ao vexame alemão de 2018 – assim como na Rússia, a seleção tetracampeã do Mundo, que disputou 8 finais, não conseguiu avançar às oitavas de final. A derrota de virada para o Japão na estreia custou caro demais aos alemães. As eliminações precoce nos dois últimos mundiais seria uma maldição após a maior tragédia do futebol brasileiro, ocorrida no Mineirão em 2014, quando os brasileiros foram atropelados por 7 a 1? Com a derrota da Espanha para um surpreendente Japão, os espanhóis se classificaram em segundo e seguem com chance de conquistar o bicampeonato. 

Quem cresceu na hora certa é a Argentina. Após a derrota vexatória para a Arábia Saudita, os hermanos venceram e convenceram contra mexicanos e poloneses. Como tradição, os argentinos acabaram se dando bem e encaram a Austrália nas oitavas. Desde então, cada partida pode representar a última de Lionel Messi em Copa. As campeãs França e Inglaterra também podem supreender. Única seleção a estar presente em todas as Copas, tendo ganhado em 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002, o Brasil sempre é favorito. Mesmo não tendo nem de perto jogadores dos quilates de Pelé, Nilton Santos, Garrinha, Tostão, Rivelino, Carlos Alberto, Romário, Mauro Silva, Marcos, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo, o time está unido e Tite sabe o que faz com o elenco, apesar da injustificável convocação de Daniel Alves. 

As contusões de Danilo e Neymar são o grande desafio no que dispôe sobre ganhar a Copa. A çlassificação às oitavas está garantida e a seleção pentacampeã tende a avançar. Próximo passo, a quarta-de-final será difícil, mas o Brasil segue como favorito. Até então muito provavelmente sem Neymar, que só deve ter condições de jogo em uma eventual semifinal. Sem Ney, cabe ao menino Vinicíus Júnior, com seus dribles alegres e desconcertantes, comandar o Brasil no Mundial do Catar; país que, gostem ou não, fez o que Brasil e Rússia não tiveram coragem de fazer nas Copas passadas: peitar a autoritária Fifa. 

Até “chute no traseiro” desferido pelo então presidente da Fifa, Jérôme Valcke, o país tomou. Cervejas, que são proibidas em estádios paulistas desde 1995, foram liberadas na Arena de Itaquera, tanto na Copa 2014 como na Olimpíadas em 2016. Os russos, historicamente mais “fechados” que Europa e América do Sul, engoliram a seco todas as imposições da FIFA com suas marcas e patrocinadores. Já o Catar mostrou que seu país tem regras e tradições que estão acima de qualquer ordem da Fifa ou de interesses comerciais. Bebidas alcóolicas foram proibidas (e olha que uma grande marca de cerveja é patrocinadora oficial da Copa), assim como qualquer menção à bandeira LGBT. A infraestrutura e o legado que será deixado são espetaculares. Com estádios sustentáveis, desmontáveis e até feitos com contâiners, o Catar dá aula de organização e reaproveitamento. Bem diferente dos bilhões dos cofres públicos brasileiros que ergueram verdadeiros elefantes brancos em cidades como Manaus e Brasília. 

Por falar em estádio a presença do público do Catar tem ocupação de quase 90% nos estádios. Das oito arenas, seis possuem capacidade para cerca de 45 mil pessoas. O segundo maior é o Al Bayte, que comporta 68 mil espectadores. O palco da final, e onde o Brasil jogou contra Sérvia e Camarões, é o gigantesco e imponente Lusail, com capacidade para 88.966 torcedores. E é lá que no dia 18 de dezembro será disputada a 22ª final da Copa do Mundo. 

Até o momento desta publicação nove títulos ficaram na América do Sul, sendo cinco do Brasil, dois da Argentina e dois do Uruguai. As competições restantes foram vencidas pelos europeus. Alemanha e Itália venceram o torneio quatro vezes cada uma, a França, atual campeã, venceu o torneio duas vezes, enquanto Espanha e Inglaterra possuem um título cada. Quem será o campeão deste ano?