No dia 7 de setembro de 1822, o príncipe regente Dom Pedro de Alcântara rompeu com Portugal e anunciou a criação de uma nação independente; toda a história pode ser apreciada no Museu do Ipiranga – que reabre após 9 anos fechado para reformas
O bicentenário da independência brasileira tem com data história o 7 de setembro. Esta data histórica marcou o fim do laço colonial que existia com Portugal e o início de uma nação independente. Mas, o Brasil realmente só se tornou independente após três anos. Neste período, aconteceram conflitos entre as tropas portuguesas e brasileiras, por todo o território nacional. Somente em 1824 a independência do Brasil foi reconhecida pelos Estados Unidos e em 1825 por Portugal.

De qualquer forma, teve início há 200 anos a história de uma nação que, mais do que qualquer outra, tinha os melhores pré-requisitos para ser pacífica, rica e próspera. O Brasil possui imensas áreas férteis, milhares de rios, em parte gigantescos, a maior floresta tropical do mundo, uma colossal biodiversidade, quase 11 mil quilômetros de litorais, cinco zonas climáticas diferentes e abundantes recursos naturais.
O país tem uma população que dificilmente poderia ser mais diversificada, combinando as influências, experiências e aptidões de quatro continentes. Ao nascer, em 1822, a nação brasileira já veio com um defeito: ao contrário de outras colônias da América Latina, não se transformou em república, mas sim em monarquia. O primeiro chefe de Estado foi o imperador Pedro 1º, originalmente príncipe herdeiro de Portugal.
Desde o século 16 a economia do país se baseava na produção de açúcar no Nordeste. O cultivo era controlado por algumas poucas famílias que apoiavam a monarquia e não tinham interesse em mudanças. A corrida do ouro do século 18 levaria mais tarde à ascensão da região Sudeste e à transferência da capital colonial, de Salvador para o Rio de Janeiro.
As primeiras décadas do novo Estado transcorreram menos caóticas do que nas repúblicas do continente. No entanto, a popularidade de Dom Pedro caiu: para desagrado dos latifundiários, ele firmou tratados comerciais com a Inglaterra, comprometendo-se a dar fim à importação de escravos. Mas, os comerciantes de escravos ignoraram a medida e continuaram seus negócios em regime mais ou menos clandestino. A elite branca considerava a exploração e repressão de outros seres humanos um direito seu, que justificava com argumentos racistas. Esta mentalidade permaneceu uma característica da elite brasileira, até hoje.
Em 1840, com apenas 15 anos, Dom Pedro de Alcântara assumiu os assuntos de governo, dando início a uma era que os historiadores consideram uma das mais frutíferas do Brasil. Pedro 2º era um monarca esclarecido: sério, modesto e intelectualmente curioso. Porém ele também travou a brutal guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, entre 1864 e 1870, matando mais da metade da população paraguaia. Sob Dom Pedro 2º, a economia nacional continuou se baseando em grandes plantações e trabalho escravo.
Calcula-se que, dos cerca de 12 milhões de africanos forçados a cruzar o Oceano Atlântico a partir do século 16, a metade foi parar no Brasil: a rota marítima até aqui era mais curta, e os escravos, portanto, baratos. Somente em 1888 foi proclamado o fim da escravidão no Brasil, o último país das Américas a abolir a prática. A decisão foi também expressão de um remanejamento do poder, pois a indústria açucareira do Nordeste perdera influência, enquanto a alta burguesia urbana e os plantadores de café do Sudeste exigiam ter mais voz ativa. Chegou-se à conclusão de que a república combinava melhor com o capitalismo em ascensão.
Nasceram novos ramos econômicos, sobretudo no Sudeste e no Sul, que empregavam muitos imigrantes europeus. Nos séculos 19 e 20, centenas de milhares de portugueses, italianos, espanhóis e alemães empobrecidos imigraram – sob condições iniciais totalmente diversas das dos escravos africanos. Ao longo de 200 anos, a ordem social vertical do Brasil mal se alterou, apesar de intermitentes impulsos de modernização – por exemplo, com a criação do Estado Novo sob Getúlio Vargas. Na década de 1950 o Brasil sediou a Copa do Mundo de Futebol, a petroleira estatal Petrobras foi fundada, e a nova capital, Brasília, inaugurada em 1960, transformou-se no símbolo da tão sonhada grandeza da nação.
Apenas quatro anos mais tarde os militares acabariam com o sonho: em 1º de abril de 1964 os generais deram um golpe de Estado, com respaldo dos Estados Unidos e alegando como justificativa atividades comunistas no país. Nos 21 anos da ditadura militar, segundo a Comissão Nacional da Verdade, foram assassinados 434 presos políticos, assim como 8.500 indígenas; e dezenas de milhares foram presos e torturados. Esses crimes nunca foram investigados judicialmente, e este é um dos motivos por que até hoje a política brasileira se encontra sob a influência negativa dos militares.
Nos primeiros anos após a redemocratização, contudo, ficou mais uma vez óbvio um problema ancestral do Brasil, que fora varrido para debaixo do tapete durante a ditadura: a corrupção. Também ela é primordialmente um problema das classes mais altas, com acesso a verbas públicas que aparentemente consideram normal desviar.
Para celebrar a data, a prefeitura de São José dos Campos promoveu o retorno do desfile de 7 de setembro – após uma pausa de dois anos devido à pandemia. As atividades contemplam hasteamento de bandeiras na avenida São José e apresentação de bandas das forças de segurança pública.
Museu do Ipiranga
Situado a apenas 90 quilômetros de São José dos Campos, o Museu do Ipiranga é uma excelente opção para conhecer e reviver a história da independência do Brasil. Após nove anos fechado, o Museu reabre ao público na quinta (8) como celebração do bicentenário da Independência do Brasil. Além de restaurado, modernizado e acessível, ele aposta também na pluralidade e em uma discussão crítica sobre as obras.
Para abordar assuntos controversos, a curadoria do museu vai utilizar recursos multimídia para propor novas visões sobre os objetos expostos. A expectativa é que passe a receber o triplo de pessoas que costumava procurá-lo, passando a 900 mil visitantes por ano. Monumentos que homenageiam figuras e situações controversas, como estátuas de bandeirantes, serão encarados como documentos históricos, ou seja, obras que informavam ou refletiam sobre um modo de se pensar à época.
Em sua primeira semana de funcionamento, o museu terá um horário especial e estará aberto das 11h às 16h. As visitas precisam ser agendadas pela plataforma Sympla e, até o dia 6 de novembro, a entrada será gratuita. O público que visitar o museu vai deparar com um espaço bem maior: ele hoje tem o dobro de área expositiva e terá um restaurante e um mirante. O mirante, no entanto, não estará disponível aos visitantes nesse primeiro momento: ele ainda não tem data para ser liberado ao público.
O agendamento para visita estará disponível a partir do dia 5 de setembro, às 10h.